Nem só de reportagens vive uma agência de jornalismo de dados. A Agência Tatu, startup alagoana, também é responsável por criar projetos inovadores e especiais utilizando dados públicos em diversas áreas, como saúde, meio ambiente e economia.
Os projetos são muito importantes, pois exercem a função social do jornalismo, que é de fornecer, de forma simples, informações que normalmente não são de fácil acesso da população. Além disso, utilizam mecanismos do jornalismo de dados e automação para proporcionar uma experiência inovadora aos usuários.
Em menção aos cinco anos de fundação da Agência Tatu de Jornalismo de Dados, os diretores Lucas Maia e Lucas Thaynan, contam mais detalhes sobre as iniciativas tecnológicas da Tatu Lab, o laboratório de tecnologia da agência.
Litrômetro e Abastece Maceió
O Litrômetro é um monitor em tempo real dos preços da gasolina praticados nos postos de combustível em Maceió. Além do site, há o aplicativo Abastece Maceió, disponível para dispositivos Android, também desenvolvido pela Tatu Lab.
Tanto o Litrômetro como o Abastece Maceió utilizam como base de dados o banco disponibilizado pela Secretaria da Fazenda do Estado de Alagoas (Sefaz) e, a partir disso, é realizada a filtragem e análise para disponibilizar a visualização dos dados de forma automática para o site e aplicativo.
Com o aumento exponencial da gasolina nos últimos meses, o projeto tem se mostrado cada vez mais útil para os alagoanos que precisam abastecer na capital. O diretor de tecnologia da Agência Tatu, Lucas Maia, explica a principal diferença entre os projetos.
“Atualmente, o Abastece Maceió é mais usado por motoristas que buscam identificar onde tem o combustível mais barato, já o Litrômetro acabou se tornando uma ferramenta muito usada por jornalistas. Não é só a Tatu que utiliza, outros veículos se pautam pelas informações mostradas no Litrômetro, como já vimos em algumas reportagens feitas por empresas midiáticas. O objetivo é dar mais transparência para esses preços que são tão importantes para o cidadãos”, explica Maia.
Onde tem Álcool Gel
O projeto “Onde tem Álcool Gel” surgiu diante da necessidade da população maceioense, durante o primeiro momento da pandemia de Covid-19, em encontrar o produto que estava escasso nos supermercados e farmácias da cidade.
Buscando facilitar essa procura por álcool gel, a Tatu Lab criou um site, utilizando o banco de dados fornecido pela Sefaz, que mostrava a quantidade em estoque em diversos estabelecimentos que vendiam o produto. Dessa forma, o consumidor poderia verificar o local mais perto que tinha disponibilidade e comprar.
O mapeamento coletava, em tempo real, os dados das notas fiscais emitidas e fornecidas pela Secretaria da Fazenda. As informações eram baixadas automaticamente para a plataforma quando a nota fiscal era emitida para o consumidor. Dessa forma, a tabela foi organizada de acordo com a última venda de cada estabelecimento.
“As pessoas estavam fazendo fila na porta de indústrias que produziam álcool gel, iam às farmácias e encontravam todos os estoques esgotados. As reportagens sobre isso eram inúmeras e as pessoas estavam muito preocupadas com essa coisa da higiene das mãos. Então, a gente identificou essa necessidade e conseguimos cruzar esses dados com outras bases para colocar também o telefone do estabelecimento, para que as pessoas pudessem consultar antes com os locais e de fato encontrar o produto”, conta Lucas Maia.
O diretor de tecnologia da Agência Tatu relata que o projeto foi muito acessado na época da pandemia e, em apenas dois dias, teve mais acessos do que o ano inteiro de 2019 no site da agência.
“Chegou uma hora que foram tantos acessos que o site saiu do ar e a gente teve que buscar outra solução para que o site continuasse mostrando aquelas informações importantes. Até vendedores nos ligaram agradecendo pela iniciativa e foi muito interessante, fizemos reportagem, concedemos entrevistas falando sobre sobre isso e foi realmente uma ferramenta muito útil e muito utilizada pelas pessoas lá no comecinho da pandemia aqui em Alagoas”, disse Maia.
Monitor da Covid-19 em Alagoas
O Monitor Covid-19 em Alagoas foi mais um projeto que surgiu durante a pandemia e diante da necessidade pública de apresentar de forma detalhada os números de casos confirmados e óbitos por coronavírus no estado.
O projeto foi pensado com o objetivo de dar uma perspectiva visual sobre a situação de Alagoas com relação ao vírus. No início, a base de dados utilizada era coletada diariamente com o boletim da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e atualizada na planilha que automaticamente transformava as informações para a visualização do site.
Depois, os dados eram coletados diretamente do repositório Brasil.IO, que disponibilizava uma base com todas as informações do país. Dessa forma, os dados deixaram de ser coletados manualmente e o Monitor da Covid-19 em Alagoas passou a ser atualizado automaticamente. “Isso facilitou muito o trabalho da agência, porque a gente não precisou mais dedicar uma pessoa pra fazer isso manualmente todo dia”, explica Lucas Maia.
O Monitor ficou no ar durante dois anos até que, em abril deste ano, a Agência Tatu comunicou a descontinuidade do projeto, já que as atualizações diárias do Brasil.IO foram encerradas.
Malu a Robô do Tempo
Uma robô que publica diariamente, de forma automática, notícias sobre a previsão do tempo em Maceió. O projeto “Malu, a Robô do Tempo”, foi pensado há quatro anos, pelo diretor de visualização, Lucas Thaynan, durante um curso de introdução à linguagem de programação Python.
“O objetivo era fazer com que algum sistema coletasse essa informação, criasse o lead e publicasse a matéria de forma automática. Então, por exemplo, hoje, ela [a robô Malu] está publicando uma previsão para amanhã, com título, com os parágrafos estruturados e todas essas informações”, explica Lucas Thaynan.
A base de dados utilizada para a robô Malu é do Climatempo, que é uma plataforma que possui diversas informações sobre previsão do tempo de todos os municípios do país. Agora, o objetivo é expandir a metodologia de coleta de dados para outros projetos.
“A Malu é um protótipo e hoje ela está bem simples, basicamente ela publica um título e um lide, mas acho que foi um experimento bem legal que conseguimos pôr em prática e que vale a pena a gente explorar bem mais”, conta Thaynan.
Com a facilidade de gerar notícias através da robô Malu, também se discute muito sobre a possibilidade de robôs assumirem o papel de jornalistas, mas o diretor da Agência Tatu explica que o objetivo é bem diferente disso. O robô seria uma forma de fazer trabalhos diários e simples, podendo economizar o tempo do jornalista, que deve usá-lo para conteúdos mais complexos.
“É óbvio que um robô desse não vai fazer uma entrevista com a fonte, não vai checar algumas determinadas informações que são mais sensíveis. Então, por isso que a gente pode utilizar os robôs para as tarefas mais simples, eles são práticos. Já o trabalho do jornalista continua sendo extremamente importante para pautas mais difíceis, mais complexas, que é onde a gente deve dedicar a nossa energia”, finaliza Thaynan.