Dados do Censo 2022 do IBGE mostram que Sergipe é o estado brasileiro com maior proporção de habitantes em áreas sem arborização. De 1,7 milhão de moradores em zonas urbanas, 61% vivem em ruas sem árvores. Além disso, São Luís, no Maranhão, é a capital do Brasil com menos ruas arborizadas.
A Agência Tatu esteve presente no lançamento do resultado da pesquisa Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios, realizado na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), analisou os números e constatou que 1.057.904 pessoas em Sergipe residem em vias completamente desprovidas de arborização, colocando o estado na liderança deste índice negativo entre todas as unidades federativas.
Embora Aracaju apresente situação menos crítica, com 55% dos moradores em áreas sem árvores, a capital sergipana ainda permanece significativamente acima da média nacional de 33,7%.
Entre os municípios sergipanos, Porto da Folha, que fica no sertão, tem o pior índice: 92,97% dos moradores vivem em ruas sem árvores. No Nordeste, o destaque negativo é Igrapiúna, no Baixo Sul da Bahia, onde 94,08% da população — de pouco mais de 13 mil pessoas — reside em vias sem arborização.

Dos 10 estados brasileiros com os piores índices de pessoas vivendo em ruas sem árvores, cinco ficam no Nordeste: Sergipe (61%), Alagoas (54,4%), Bahia (50,6%), Pernambuco (50,6%) e Maranhão (47%). Na região, apenas o Ceará – com 30,8% – apresenta um percentual melhor que a média nacional. O Piauí segue próximo do número de todo o Brasil, com 33,2% dos seus habitantes residindo em ruas urbanas não arborizadas.
Jonas Ricardo, doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe, destaca que a escassez de árvores nas zonas urbanas nordestinas, especialmente em Sergipe, reflete um conjunto de fatores históricos, socioeconômicos e estruturais.

“Em geral, as cidades nordestinas cresceram de forma desordenada, com pouca ou nenhuma integração entre planejamento urbano e políticas ambientais. É comum, principalmente no interior, construções erguidas lado a lado, sem espaço para o plantio de árvores. Isso resultou em malhas urbanas densas, com baixa previsibilidade quanto à inclusão de espaços verdes e com ocupações que frequentemente negligenciam aspectos ecológicos básicos, como a arborização viária”, pontua.
Ricardo afirma que essa carência também pode estar relacionada à desigualdade socioespacial. “Bairros periféricos, habitados majoritariamente por populações de baixa renda, tendem a ser os mais afetados, apresentando menos infraestrutura verde e, consequentemente, menores níveis de qualidade ambiental urbana”.
São Luís é a capital com menos vias arborizadas do Brasil
Entre as capitais brasileiras, São Luís apresenta o maior número de vias urbanas sem arborização, com 65,68% da população vivendo nesta condição. Salvador (BA) aparece na sequência, quase empatado com 65,6%. Na relação das 10 unidades federativas com os números mais expressivos, também figuram Aracaju, em 6º lugar, Maceió em 8º (53,7%) e Recife em 9º com 48,77%.
Consequências da falta de arborização
Para o especialista Jonas Ricardo, embora o Nordeste seja uma região com alta incidência solar e clima predominantemente quente e seco em determinadas áreas – o que tornaria o plantio de árvores ainda mais estratégico para conforto térmico -, esse potencial não tem sido plenamente aproveitado. Assim, a ausência de vegetação gera múltiplas consequências. Ele enumera as principais:
- Aumento das temperaturas urbanas: as árvores funcionam como reguladoras térmicas naturais, proporcionando sombra e diminuindo a temperatura do ar por meio da evapotranspiração. Sem elas, intensifica-se o fenômeno conhecido como “ilha de calor urbana;
- Redução da qualidade do ar: a vegetação ajuda a filtrar poluentes atmosféricos e a elevar a umidade relativa do ambiente. Sua ausência contribui para maior concentração de elementos nocivos, agravando problemas respiratórios e cardiovasculares;
- Perda de biodiversidade: os espaços arborizados servem de habitat para diversas espécies, inclusive polinizadores e aves. A falta de cobertura vegetal reduz os corredores ecológicos e empobrece a fauna e flora locais;
- Piora da drenagem urbana: as áreas verdes auxiliam na infiltração da água pluvial e na contenção da erosão do solo. Sua carência contribui para o aumento do escoamento superficial, alagamentos e degradação territorial. Nota-se no interior sergipano praças com baixa presença de árvores;
- Impacto na saúde mental e bem-estar: diversos estudos comprovam os benefícios do contato com a natureza para o equilíbrio psicológico e bem-estar das pessoas. Ambientes urbanos áridos costumam ser mais estressantes e menos acolhedores.
Soluções
O especialista também explica que para transformar esse cenário é necessária uma ação integrada entre diferentes esferas do poder público, com participação ativa da comunidade. Ele sugere algumas medidas viáveis:
“Os planos diretores municipais devem incorporar metas e diretrizes claras para arborização urbana, criação e preservação de áreas verdes e corredores ecológicos; as prefeituras precisam elaborar projetos com diagnóstico, objetivos e monitoramento contínuo; a população deve ser incentivada através de campanhas a adotar, cultivar e cuidar das árvores, priorizando espécies nativas da região; parcerias público-privadas podem representar um caminho eficaz para financiar e implementar iniciativas”, enumera Ricardo.
Ele ressalta que a responsabilidade não cabe apenas aos órgãos públicos. “A sociedade civil, empresas e organizações não governamentais também devem assumir protagonismo na valorização da cobertura vegetal urbana”, acrescenta.
Os melhores cenários

Entre os estados nordestinos, o Ceará apresenta o panorama mais favorável com 34% da população da zona urbana residindo em vias com 5 ou mais árvores, ligeiramente acima da média nacional de 32%. Na comparação entre as capitais da região, Fortaleza lidera em arborização (24,9%), mesmo ficando em patamar positivo em relação à média do país.
A localidade nordestina mais arborizada é Viçosa, no Rio Grande do Norte, com 93% dos habitantes em vias com presença de árvores. Este município se destaca, ocupando o 16º lugar no ranking nacional. Situado na região do Alto Oeste, a 365 km da capital, é um dos menores territórios do estado com 37,905 km² de área e 1.822 habitantes (IBGE, 2022).
No comparativo nacional, Mato Grosso do Sul registra 59% da população em vias com mais de 5 árvores. Entre as capitais brasileiras, Brasília ocupa o primeiro lugar com 56,4%. A cidade com melhor desempenho no país é São Pedro das Missões (RS), alcançando 99,6%.