No Estado em que cerca de 300 mil pessoas ainda vivem em situação de extrema pobreza, e com uma população que possui uma renda per capita média abaixo dos R$ 600,00, além de mais de 120 mil famílias que enfrentam o déficit habitacional, o valor médio dos bens dos candidatos que declararam possuir patrimônios nas eleições municipais deste ano, mais de R$ 192 mil, vem contrastar com essa dura realidade de grande parcela dos alagoanos.
O montante de R$ 598.539.329,18 é exatamente o valor do somatório de todos os bens declarados pelos que disputam as vagas a vereador, prefeito e vice-prefeito dos 102 municípios de Alagoas nas eleições deste ano de 2016.
A reportagem da Agência Tatu acessou a base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com a relação dos bens dos candidatos as eleições deste ano no estado. A partir dessas informações foi possível produzir todos os gráficos e infográficos apresentados nesta reportagem, que trazem um raio-x do “bolso” daqueles que disputam a eleição em Alagoas.
A radiografia detalha valores das propriedades dos candidatos, expondo dados que muitas vezes passam despercebidos do cidadão, que precisa, e deve, conhecer mais dos representantes que irá escolher nas urnas.
Entre os 7.225 mil candidatos em Alagoas – 313 prefeitos; 320 vice-prefeitos e; 6.635 mil vereadores -, este levantamento se atenta a analisar o patrimônio de 3.103 mil desses candidatos, cerca de 42,95%, os quais declararam possuir ao menos um bem. Os outros 57,05%, ou seja, 4.122 mil não declararam possuir bens em seus nomes.
Um dado que chama a atenção é que no grupo dos que informaram não possuir patrimônio há, ao menos, 407 agricultores, 280 comerciantes, 149 empresários, 73 aposentados, 13 odontólogos, 13 pecuaristas, 9 gerentes, 4 médicos, 3 astrônomos, entre outros. Estas profissões foram informadas pelos próprios candidatos à Justiça Eleitoral.
MAPA E RANKING DOS MUNICÍPIOS
É interessante notar no mapa abaixo os patrimônios totais dos candidatos em cada um dos municípios de Alagoas. Os quadrados maiores representam um maior valor em bens dos concorrentes aos cargos políticos daquela determinada cidade.
Para chegar a estes valores foi calculado os patrimônios de todos os candidatos (vereador, prefeito e vice-prefeito) de cada um dos municípios de Alagoas.
Também foi possível criar um ranking dos bens por município, no qual a cidade de Maceió se configura na primeira posição, com um patrimônio total dos candidatos de R$ 35.796.621,71. Em segundo lugar, está o município de Quebrangulo, com R$ 32.739.821,79 em bens. E em seguida Tanque D’Arca, com R$ 28.309.110,91.
O município com o menor valor em bens declarados foi São José da Laje, com R$ 311.472,08. (Confira o ranking completo abaixo)
Se os gráficos não aparecerem basta atualizar a página.
RANKING DOS CANDIDATOS
No gráfico a seguir, o levantamento aponta quais candidatos possuem os maiores e menores patrimônios de Alagoas.
Com isso, foi possível observar que o candidato a prefeito de Tanque D’Arca, José Rubem (PSDB), possui o valor de mais de R$ 17 milhões em bens, seguido pelo candidato a prefeito de Quebrangulo, Marcelo Lima (PMDB), e da candidata a vice-prefeita também de Quebrangulo e da mesma chapa de Lima, Andréia Maia (PMDB), com R$ 14,4 e R$ 12,9 milhões em propriedades, respectivamente.
A candidata a vereadora por Maceió, Átila Vieira (Rede), é a que possui o menor patrimônio entre os que declararam, com o valor de R$ 0,01 (um centavo) oriundo de em uma conta corrente do Banco do Brasil.
No gráfico também é possível filtrar o ranking dos candidatos por município, cargo ou partido.
DETALHAMENTO DOS BENS
Entre residências, carros, terrenos, barcos, cotas em empresas, dinheiro em conta e outras posses, os candidatos de Alagoas declararam um total de 7.633 mil bens, que variam entre R$ 0,01 e R$ 10 milhões. Este último valor se refere a uma casa, em União dos Palmares, do candidato a vereador do mesmo município, Anselmo do Posto (PPL).
Na lista dos bens mais valiosos, estão ainda: uma fazenda no valor de R$ 6,4 milhões, em Lagoa do Ouro (PE), da candidata a vice-prefeita de Quebrangulo, Andréia Maia (PMDB); uma outra fazenda no valor de R$ 5,4 milhões, na mesma cidade de Lagoa do Ouro (PE), do candidato a prefeito de Quebrangulo, Marcelo Lima (PMDB); em seguida está outra propriedade do candidato Marcelo Lima, 50% de uma fazenda em Quebrangulo, no valor de R$ 5,2 milhões.
Estes bens e todos os outros podem ser consultados no gráfico abaixo. Basta digitar o nome do candidato na barra de pesquisa para encontrar os bens declarados à Justiça de forma detalhada.
*Caso o candidato que você busca não esteja listado no gráfico é porque ele não declarou bens.
CURIOSIDADES
A análise pode relevar alguns patrimônios curiosos dos candidatos de Alagoas. Eles declaram possuir 5.975 mil cabeças de gado, 347 vacas, 115 bezerros e dois touros. Além de 28 Kombis, seis Fuscas, nove lanchas, três ambulâncias e mais de R$ 11 milhões em dinheiro em espécie, sendo R$ 334 mil em dinheiro estrangeiro.
TIPO DOS BENS
“Casas” estão no topo da lista dos tipos dos bens dos candidatos, com um valor total de R$150.707.128,28, o que representa 25,17% de todos os patrimônios declarados. Em segundo lugar, está “Veículo automotor terrestre”, com um valor de R$ 84.655.255,90, 14,14% do total. Já os bens com “Terreno” representam 13,45% do total, com o valor de R$ 80.516.733,58, figurando-se em terceiro lugar na lista.
PREFEITOS À REELEIÇÃO EM ALAGOAS
37 prefeitos dos 102 municípios alagoanos concorrem neste ano à reeleição ao cargo político. Assim, a reportagem realizou o comparativo entre os valores declarados à Justiça Eleitoral nas eleições de 2012 e de 2016.
Com o levantamento foi possível ver que nesses quatro anos o patrimônio do prefeito por Roteiro, Wladimir Brito (PDT), passou de R$ 30 mil, em 2012, para R$ 567.769,54, em 2016, um aumento de 1.792,66%. Número bem superior aos 78,5%, valor da média do aumento nos patrimônios dos prefeitos à reeleição no estado.
Há também os prefeitos que desde a última eleição municipal declararam não possui bens em seus nomes. São eles: Geo Cruz (PT do B) – Ibateguara, Manoelzinho (PMDB) – Jacuípe, Segundo (PMDB) – Jundiá, e Elmo Medeiros (PMDB) – Monteirópolis.
VEREADORES À REELEIÇÃO EM MACEIÓ
Dos atuais 21 representantes da Câmera de Vereadores de Maceió, 19 concorrem à reeleição ao cargo no processo eleitoral deste ano. Entre eles, também foi feito um comparativo dos valores em patrimônios declarados à Justiça Eleitoral nas eleições de 2012 e 2016.
Assim, pode-se observar que a vereadora Silvânia Barbosa (PPS) teve a maior variação entre os valores declarados, passando de R$ 21.417,03, em 2012, para R$549.635,73 em bens neste ano, com uma taxa de variação de 2.466,35%. Com a segunda maior variação está o vereador Wilson Júnior (PDT), com 1.336,65%. Tereza Nelma (PSDB), fica em terceiro, com 579,55%.
Enquanto alguns vereadores aumentaram o patrimônio em mais de mil por cento, outros declararam ter menos bens do que há quatro anos. É o caso do vereador Cléber Costa (PP) que, em 2012, informou à Justiça um valor de R$1.085.000,00 em bens, e que neste ano declarou possuir apenas R$ 24.124,62 em posses, uma diminuição de – 97,78% no seu patrimônio.
Os vereadores por Maceió Heloísa Helena (PSOL) e Marcelo Gouveia (PRB) não estão concorrendo às eleições deste ano.
COMO É FEITA A DECLARAÇÃO?
A Justiça Eleitoral colhe as informações dos bens e dos respectivos valores por meio da Declaração de Imposto de Renda, na Receita Federal, de cada candidato. Ela também obriga que o concorrente ao cargo político preencha uma lista com seus bens no Sistema CANDex (plataforma de registro de candidatura).
No entanto, a Justiça não obriga que os valores dos patrimônios sejam atualizados. Ou seja, se uma residência foi comprada em 2010, por R$ 100 mil por exemplo, o candidato não é obrigado a atualizar esta quantia para o valor vigente de mercado.
A assessora de comunicação, Flávia Gomes de Barros, do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE-AL) explica que o órgão não realiza fiscalizações para verificar a veracidade dos dados relacionadas aos bens declarados pelos candidatos. “Publicamos as informações de acordo com os patrimônios declarados no Impostos de Renda de cada um dos candidatos, mas a Justiça Eleitoral não vai atrás para verificar se essas informações são de fato verdadeiras”, revela.
A pesquisa e todos os gráficos, infográficos, tabelas e texto desta reportagem foram feitos por Lucas Thaynan, sob a orientação da professora Magnolia Rejane.
*Os dados desta matéria foram extraídos em 24 de agosto de 2016 no site do TSE.