Ceará é o estado do Nordeste com maior proporção de leitores

Hábito de leitura tem diminuído no Brasil desde 2015; mais da metade da população do país não lê livros

Fundo azul com uma colagem em preto e branco de dois livros empilahos e recortes de olhos em cima. Capa da matéria sobre proporção de leitores no Brasil.
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Pela primeira vez desde 2007, mais da metade da população brasileira (53%) não possui o hábito de leitura, segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2024. Ainda assim, alguns estados do país apresentaram uma proporção de leitores maior que a média nacional, como é o caso do Ceará, onde 54% das pessoas leram algum livro, inteiro ou em partes, nos últimos três meses da pesquisa.

De acordo com os dados da 6ª edição do levantamento, analisados pela Agência Tatu, dentre os estados da região Nordeste, o Ceará é o que possui o maior percentual de leitores e o único em que mais da metade da população é considerada leitora. Em seguida, Pernambuco aparece com 46% de leitores, Maranhão com 45% e Bahia com 42%.

Por outro lado, Rio Grande do Norte é o estado do Nordeste com a menor proporção de pessoas que leram algum livro, inteiro ou em partes, nos últimos três meses da pesquisa — realizada entre 30 de abril a 31 de julho de 2024 —, apenas 33% são leitores.

Proporção de leitores nos estados do Nordeste

Pesquisa considera leitores aqueles que leram pelo menos um livro, de qualquer gênero, inteiro ou em partes, impresso ou digital, nos últimos 3 meses da pesquisa.

O hábito de ler um livro tem diminuído no Brasil na última década. O levantamento mostra que, em 2015, 56% da população era considerada leitora, já em 2019 o percentual foi para 52% de leitores, enquanto em 2024 o número reduziu para 47%.

Ao observar os dados por região do país, o Nordeste teve o menor percentual de leitores em 2024, com 43%. Em contraponto, a região Sul foi a que teve a maior proporção de leitores, com 53%, em seguida, a região Norte teve o melhor resultado, com 48% de leitores.

De toda forma, todas as regiões apresentaram uma redução no percentual de leitores, de 2019 para 2024, exceto o Centro-Oeste, que registrou um aumento de 46% para 47% nos últimos seis anos.

Percentual de leitores por região do país

Todas as regiões do Brasil apresentaram diminuição na proporção de leitores, de 2019 para 2024, exceto pelo Centro-Oeste.

Obstáculos para a leitura

Entre os motivos pelos quais os entrevistados da pesquisa alegaram não ter lido mais, o principal é a falta de tempo, onde 46% das pessoas assinaram essa razão.

Outras barreiras para a leitura são: porque preferem outras atividades (9%), porque não têm paciência para ler (8%), porque se sentem muito cansados para ler (7%), porque acham o preço de livro caro (5%), porque não gostam de ler (4%), dentre outros motivos.

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Para a doutora em História e criadora e mediadora de um clube de leitura feminista, Suzana Veiga, ler é um privilégio que exige um exercício de certa concentração.

“Diferentemente do que se pensa, a criação de novas tecnologias, ‘facilidades’ e estilo de vida moderno, não criaram ‘mais tempo’ para nós, pelo contrário, mais demandas foram criadas. Hoje temos muito mais demandas do que simplesmente acabar um dia de trabalho e ir ler um livro na sala”, conta a especialista em História das Mulheres.

Mulher branca de cabelos escuros em uma biblioteca, sorrindo e pegando um livro da estante. Suzana Veiga, doutora em História que comenta sobre o hábito de leitura no Brasil nesta matéria da Agência Tatu sobre proporção de leitores.
Doutora em História e criadora do Clube de Leitura Teoria Feminista Ontem e Hoje, Suzana Veiga. Foto: Arquivo pessoal.

Suzana explica ainda que o trabalho demanda mais fisicamente e emocionalmente das pessoas, assim como as redes sociais, o transporte público ineficiente e demorado, as cidades mal planejadas que criam trânsito sem fim, entre outras demandas criadas para o propósito do consumo e da ocupação constante.

“Falo isso pensando nas classes intermediárias que sempre foram a maioria dos leitores, se formos falar dos trabalhadores precarizados ou assalariados a realidade é ainda pior. Então, como fator principal, o tempo de leitura é tomado por ocupações da vida moderna e tecnológica que não nos permite, por fim, algo tão analógico quanto a leitura”, explica Suzana Veiga.

A professora argumenta, ainda, sobre um dos resultados da pesquisa, em que 5% da população brasileira considera os livros caros. “Mesmo em sebos, atualmente os livros custam uma média de 25 reais. Esse valor para um trabalhador assalariado é grande, especialmente se ele não compreende o valor da leitura”.

Segundo a doutora em História, Suzana Veiga, a redução no hábito de leitura é um problema sistêmico com muitas variáveis, mas que ainda é possível mudar essa situação consideravelmente, se for uma corrente de vários elos.

“Leitura não é apenas contar quantos livros da moda você conseguiu tirar da sua lista, mas sim caminhos de possibilidades, de liberdade e de enxergar mundo, mesmo quando o seu for limitado.

Suzana Veiga, professora e mediadora de clube de leitura.

"Ela [a leitura] é fundamental para a autonomia intelectual dos sujeitos e por isso se torna um problema para o capitalismo e desemboca em situações como essa da pesquisa”, finaliza Veiga.

Dados abertos

Prezamos pela transparência, por isso disponibilizamos a base de dados e documentos utilizados na produção desta matéria para consulta:

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