É fake: “Lei de Benford” por si só não é capaz de comprovar fraude em eleições

Suposto dossiê compartilhado pelas redes sociais afirma que houve inconsistências na apuração de votos do primeiro turno. Documento é falso.

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Um conteúdo publicado em site de ultradireita afirma que houve fraude no primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras baseado na análise dos resultados a partir da Lei de Benford, um método matemático utilizado para detectar anomalias em dados numéricos.

Entretanto, essa lei, sozinha, não é válida para identificar fraudes em resultados eleitorais. Dessa forma, não é possível constatar fraude nas eleições a partir do conteúdo compartilhado.

O que estão dizendo?

Um texto que está sendo compartilhado nas redes sociais afirma que houve inconsistências na apuração de votos do primeiro turno das eleições presidenciais em diversas regiões do Brasil. O conteúdo, publicado em um site de ultradireita, se baseia em um suposto “dossiê confidencial” produzido por um grupo de especialistas técnicos nas áreas de matemática, ciência política e análise forense que aplicaram a “Lei de Benford” para analisar os dados apurados das eleições pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com o texto compartilhado, “os padrões de dados descritos no dossiê contém muitas anomalias fortes que são flagrantes bandeiras vermelhas. Este é especialmente o caso na região nordeste do país”. O que sugere uma suposta fraude no primeiro turno das eleições presidenciais.

O conteúdo do texto compartilhado também aponta que: “Fox News e o New York Times noticiaram recentemente, há uma clara indicação de que os Tribunais Supremo e Eleitoral são tendenciosos e vão reprimir qualquer pessoa que investigue a integridade eleitoral no Brasil ou jornalistas que reportem informações que possam ser interpretadas como questionando a integridade dos sistemas eleitorais ou as ações de execução do próprio tribunal”.

Em uma busca nos veículos estadunidenses citados no texto – Fox News e The New York Timesnão identificamos nenhuma matéria que afirmasse que o TSE ou STF seriam tendenciosos ou que iriam reprimir quem investiga a integridade eleitoral no Brasil.

Oxe, é Fake

Não há indícios de que houve fraude no primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o uso do modelo estatístico “Lei de Benford”, por si só, não é capaz de provar qualquer irregularidade ou fraude em resultados eleitorais.

O órgão afirma ainda que “é consenso entre especialistas que a aplicação dessa lei para verificar fraude em pleitos eleitorais é controvertida”. A tentativa do uso da Lei Benford para comprovar fraudes nas eleições presidenciais brasileiras também já foi desmentida pelo TSE no pleito de 2014 e 2018.

A Lei Benford é um método matemático utilizado para detectar anomalias em dados numéricos. Dalson Figueiredo, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também afirma que não é possível detectar e comprovar fraude eleitoral a partir da Lei de Benford.

Segundo o pesquisador, a principal aplicação desse método está na área de auditoria forense para identificar padrões que se desviam do que é teoricamente esperado. “ Caso alguma anomalia seja detectada, os especialistas selecionam uma parte dos dados para aprofundar a análise com auxílio de outras técnicas estatísticas. Assim, o simples fato de uma distribuição não seguir a Lei de Benford não significa que os dados foram manipulados”, explica.

Em parceria com o professor Ernani Carvalho (UFPE) e o pesquisador Lucas Silva (UNCISAL), Figueiredo examinou dados das eleições de 2018 disponibilizadas pelo TSE a partir de cinco métodos que incluíram a Lei de Benford e não foi encontrada nenhuma irregularidade. Uma pesquisa com os dados das eleições de 2022 também está sendo feita.

Ao analisar o dossiê que está sendo compartilhado pelo site de ultradireita, Figueiredo identifica uma série de falhas no documento: “Outro problema com o relatório é a aplicação do primeiro dígito, o que não é recomendado para dados eleitorais”, aponta.

“Outra limitação é a ausência de códigos computacionais para reproduzir as análises. Hoje em dia, qualquer pessoa com um conhecimento intermediário de Excel é capaz de produzir um relatório com informações enviesadas, ou seja, é muito fácil mentir com estatística. Por isso, a ciência vem aderindo a padrões rigorosos de transparência e replicabilidade, o que por sua vez exige a disponibilização de todos os dados e scripts computacionais utilizados para produzir um determinado resultado”, acrescenta.

Nordeste Sem Fake

O conteúdo falso foi encontrado pela robô Dandara, que monitora diariamente diversas redes sociais em busca de publicações com conteúdos potencialmente relacionados à desinformação. O trabalho tem a participação dos checadores do projeto Nordeste Sem Fake, da Agência Tatu. Mais checagens de fatos estão disponíveis no site.

Dados abertos

Prezamos pela transparência, por isso disponibilizamos a base de dados e documentos utilizados na produção desta matéria para consulta:

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