Instituição voltada para o desenvolvimento regional, o Banco do Nordeste do Brasil destinou, de janeiro a junho de 2023, 51,7% das suas contratações do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) para as empresas de médio e grande porte.
De acordo com dados analisados pela Agência Tatu, 48,3% foram divididos entre micro e pequenas empresas, assentados, Crediamigo, agricultura familiar, miniprodutor e pessoa física nos seis primeiros meses deste ano. Já ao longo de todo o ano de 2022, a instituição destinou um pouco menos da metade, 44,7%, dos investimentos para empresas de médio e grande porte.
Cícero Péricles, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEAC), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), explica que o Banco do Nordeste, por ser de atuação regionalizada, realiza a distribuição dos recursos da sua principal fonte orçamentária, o FNE, baseada no tamanho da população e ao peso da economia de cada estado.
“Na programação para 2023, os três estados maiores – Bahia, Pernambuco e Ceará – pelo peso demográfico e econômico levam a maior parte do fundo de desenvolvimento, sempre mais de 40%. Os estados com populações menores que as das três grandes economias – Maranhão, Rio Grande do Norte e Piauí – recebem uma segunda parte menor do bolo, em torno de 26%; e três estados pequenos – Alagoas, Paraíba e Sergipe – ficam com 15%”, explica o professor de economia.
Esses percentuais sofrem variações a cada ano, refletindo as situações particulares, sem, no entanto, se afastarem do princípio da distribuição equilibrada dos recursos federais da principal instituição financeira de desenvolvimento regional. O anúncio de quanto será investido é declarado todos os anos.
Os dados apontam, ainda, que o BNB aumentou em 33% os investimentos realizados nos estados do Nordeste em 2023. Somente de janeiro a junho deste ano foram mais de R$19 milhões de contratações realizadas, enquanto no mesmo período de 2022, o BNB destinou um montante de mais de R$14,3 bilhões em investimentos. A análise levou em consideração as contratações disponibilizadas pela instituição apenas nos estados nordestinos, já que ela também atua em Minas Gerais e no Espírito Santo.
A Bahia, que foi o estado que mais recebeu investimentos no ano passado, recebeu R$4.3 bilhões. Enquanto Alagoas, estado que menos recebeu, ficou com apenas R$ 572 milhões.
Em 2023, a Bahia permanece como o estado com mais investimentos, sendo mais de R$5.5 bilhões (29,4% do total), enquanto a Paraíba teve um investimento de apenas R$598 milhões (3,1%) até junho.
Infraestrutura e setor agrícola: os setores com mais investimento na região
Durante o ano de 2023, com contratações contabilizadas até junho, 28,9% dos R$19 bilhões já foram direcionados ao setor da infraestrutura, com mais de R$5 bilhões. Agrícola (25,3%), pecuária (15,8%), serviços (10,8%), comércio (9,2%) e industrial (9,2%) são os setores seguintes. O setor da agroindústria recebeu, até então, 0,8%, isto é, R$147 milhões até a última atualização dos dados.
No mesmo período de 2022, foram concedidos 28,5% para o setor agrícola, dos R$14,3 bilhões. Pecuária (20,9%), infraestrutura (20,4%), comércio (11,2%) e industrial (6,9%) são os seguintes. De janeiro a junho do ano passado, a agroindústria recebeu apenas 1,5% do total, que corresponde a R$212 milhões.
A necessidade histórica de construção de infraestrutura no Nordeste faz com que os recursos destinados a obras, no plano setorial, sejam os mais volumosos, quase 30% dos recursos do fundo de financiamento. “O foco do BNB é o desenvolvimento rural, espaços de dois fortes setores, a agricultura e a pecuária. Estes dois setores absorvem, em conjunto, 40% do total de empréstimos, principalmente na região semiárida, onde são aplicados, pelo menos, 50% do orçamento total do FNE”, detalha Cícero Péricles.
Investimentos em anos anteriores
Durante o primeiro ano da pandemia da Covid-19, em 2020, foram investidos mais de R$24,3 bilhões divididos entre estados do Nordeste englobando principalmente os setores agrícola, agroindústria, comércio e industrial. Já em 2021 foram investidos R$23 bilhões.
Ao longo de toda a série analisada, de 2020 a 2023, o Banco do Nordeste liberou mais de 96 milhões de reais para os estados nordestinos. A seguir, no gráfico criado pela Agência Tatu, é possível ver quanto foi investido ao longo dos anos, o total por estado e o valor por setor de contratação. Para ver de maneira mais detalhada, basta clicar no quadrado que corresponde ao estado. Confira o gráfico a seguir:
“As necessidades de crédito dos estados podem variar, mas, no plano regional as prioridades de um banco de desenvolvimento são sempre os segmentos capazes de criar respostas mais sólidas ao crescimento econômico”, finaliza Cícero.