O temporal que atingiu a capital alagoana na tarde de ontem (20) pegou muita gente de surpresa. Em poucas horas, ruas e avenidas ficaram alagadas, parte do muro de uma casa na Grota do Arroz caiu, o teto de uma academia cedeu e o trânsito ficou lento em vários pontos da cidade.
Cenas de desastres por conta de chuvas intensas não são novidade na vida do maceioense e apontam a ausência de um planejamento urbano que resista às oscilações meteorológicas e ao histórico de precipitações.
Em Maceió, os dias mais chuvosos dos últimos 15 anos registraram índices pluviométricos que variaram desde 56,4mm em 2005 até 187,8mm em 2010. Cada milímetro de chuva equivale a 1 litro de água por metro quadrado. O levantamento foi realizado pela Agência Tatu a partir de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).
Nessa quinta-feira (20), segundo a Sala de Alerta da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas (Semarh), foram registrados 48 milímetros de chuva.
Confira no infográfico abaixo o histórico das maiores chuvas registradas nos últimos 15 anos:
Por que isso acontece?
Para a engenheira ambiental Nathália Nascimento, se o poder público não priorizar o investimento em infraestrutura adequada esse tipo de situação pode voltar a acontecer. Ela ressalta ainda que este é um problema que ocorre em todo o país.
“É um combo: a questão do desmatamento que enfraquece o solo e, por conseguinte, ele não consegue absorver o líquido; a presença do asfalto, que diminui também a quantidade de absorção da água; um plano de esgotamento sanitário eficiente; a falta de recolhimento do lixo, o descarte incorreto desses resíduos, tratamento adequado do esgoto e, antes de tudo, a educação ambiental”, explica. “Se não há um olhar atento para a consciência ambiental, todo o investimento inicial em infraestrutura ficará inválido”, destaca a engenheira.
Obras de drenagem de águas pluviais e implantação de políticas de controle urbano que consigam inibir construções e ocupações em áreas de risco podem, segundo Nathália, diminuir as chances para que, em um eventual temporal, o problema aconteça.
“Maceió tem Plano Diretor. Nesse plano existem vários itens e um deles é a drenagem urbana. Aqui, infelizmente, essa drenagem não funciona. Falta investimento e aí não tem como aguentar uma chuva como a que ocorreu ontem. Já sobre as quedas de barragens é ainda mais complicado, porque passa por uma questão de moradia. Quem reside nesses locais não fica lá porque escolheu, mas por ser a última opção”, conclui.
O que diz o poder público:
Quanto à rede coletora de esgoto, a CASAL informa que a cobertura atual de esgoto em Maceió é de 35% e que a empresa está investindo quase R$500 milhões em projetos de esgotamento sanitário na cidade.
Sobre a drenagem na capital alagoana, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra) explica que, durante todo ano, atua no trabalho preventivo e de manutenção das galerias de drenagem que escoam águas pluviais. A nota diz ainda há limpeza nas bocas de lobo, troca de grelhas, desobstrução com uso de equipamentos e pessoal especializado e que, quando quando registra algum afundamento, programa a recuperação dessas galerias.