Quando Josiane Silva, de 45 anos, parou de sentir o olfato e o paladar o sinal de alerta para a Covid-19 foi ligado. Após quase um ano mantendo o distanciamento social, a artesã saiu de casa para visitar alguns parentes com quem não tinha contato físico desde o início da pandemia, em março de 2020. Dias depois, os sintomas chegaram e, com o resultado do teste, a rotina em casa teve que mudar para que seus familiares não fossem também infectados.
“Testei positivo no dia 04 de fevereiro deste ano. Tive contato com uma pessoa da minha família após ter ido na casa dela e passei a ter os sintomas. Depois que vi os sintomas progredindo, fui logo fazer o teste. Comecei a ter muito medo, porque passei a tossir muito, mas essa tosse durou apenas os dois primeiros dias”, contou Silva. “Acompanhando tudo isso e após ter sido infectada, o que me deixa triste é que com um ano de pandemia as pessoas não estão se cuidando”, lamentou.
Apesar de não ter sido internada para tratamento da doença, Josiane representa o novo perfil que está sendo infectado pelo novo coronavírus: pessoas com menos de 60 anos. Essa nova onda da doença no Brasil vem chamando a atenção, inclusive, dos pesquisadores ligados ao Observatório Covid-19 da Fiocruz.
De acordo com dados da Secretaria de Saúde, analisados pela Agência Tatu, até essa terça-feira (30), houve um crescimento no número de pessoas com menos de 60 anos internadas em estado grave em decorrência das complicações do novo coronavírus.
No ano passado, o mês com a maior quantidade de internados nesta faixa etária foi em junho, quando 891 pessoas abaixo dos 60 anos precisaram de leitos clínicos, intermediários ou de UTI em Alagoas. Esse número foi superado neste mês de março, quando já foram registradas 927 pessoas nesta situação, representando um aumento de 4% dos casos.
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Os dados revelam, ainda, que esse número ultrapassa todas as internações de pessoas nessa faixa etária dos três primeiros meses de pandemia juntos (março a maio de 2020), quando 755 pessoas com menos de 60 anos foram internadas em estado grave.
Quem está na linha de frente desde que a pandemia de Covid-19 foi decretada pela Organização Mundial de Saúde também atesta esses dados. O infectologista Reneé Oliveira, da Secretaria Municipal de Saúde, observa que esse novo perfil de pacientes pode ter sido desencadeado por alguns fatores.
“O que notamos é o seguinte: antes atendíamos a um caso ou outro de jovens. Hoje, isso mudou. Quando alguém da família é infectado, todos os outros também são. Pai, mãe, filho e neto, o que aumenta a possibilidade de pessoas jovens desenvolverem a forma mais grave da doença e, inclusive, falecer”, explicou o médico.
Para Reneé, havia um certo controle até o período eleitoral do ano passado. “Até um pouco antes das eleições estávamos indo bem quando falamos em número de casos e mortes comparado a atualmente. Mas houve muita aglomeração e mal exemplo de políticos não usando máscara, somando-se também às festas de final de ano, carnaval e ao surgimento da nova variante. Aí tudo desandou”, argumenta o infectologista.
Ainda segundo o médico, mesmo com os constantes alertas dos órgãos de saúde pública quanto ao distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos, muitas pessoas não estão mais adotando essas medidas.
“Essa doença é traiçoeira. Ela pode atingir uma pessoa idosa com comorbidades de maneira mais forte, mas também pode atingir um jovem atleta que frequenta academia. Com tudo isso que estamos vivendo, acredito que fracassamos como sociedade”, finaliza.
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