A adoção tardia no Brasil é um grande desafio. Na região Nordeste, por exemplo, são mais de 4.600 pessoas com interesse em adotar crianças cadastradas no Sistema Nacional de Adoção, no entanto, 84,7% delas estão à procura de crianças de até 6 anos. Por outro lado, 650 crianças das unidades de acolhimento, 78,9% de 822, têm mais de 6 anos e podem atingir a maioridade sem receber o afeto de um lar.
Os dados do Painel de Acompanhamento do Conselho Nacional de Justiça, responsável pelo Sistema Nacional de Adoção, foram analisados pela Agência Tatu e, a partir de um comparativo, é possível perceber uma grande diferença entre o número de pretendentes a mães e pais adotivos e o de crianças disponíveis para adoção. A maior diferença se concentra na preferência por idade, como mostrada no gráfico abaixo, com dados atualizados nesta quinta-feira (4).
Interesse em adoção diminui com avanço da idade das crianças
No Nordeste, 85% dos interessados ignoram 78,9% das crianças
A Comissão da Criança e do Adolescente da OAB/AL acompanha os trabalhos das unidades de acolhimento e reconhece que a adoção tardia não é comum, o que dificulta o sistema de adoção. “As pessoas muitas vezes buscam na adoção uma forma de suprir algo que ainda não foi preenchido e isso reflete em suas escolhas quando se cadastram. Elas terminam escolhendo crianças menores, em sua maioria a preferência são bebês e crianças menores de 8 anos”, explica o advogado Thiago Rocha, presidente da Comissão.
Com essa barreira entre interessados em adoção e crianças com mais de 6 anos, o clima é de ansiedade para quem está chegando aos 18 anos, como observa Álvaro Farias, coordenador geral de Acolhimento Institucional de Maceió: “Como são crianças que passaram por traumas familiares, já são por si só mais sensíveis emocionalmente. Os processos causam bastante ansiedade nas crianças, além de muita expectativa”.
O avanço da idade é motivo de apreensão, porque ao atingir a maioridade elas precisam deixar as casas de acolhimento. A OAB supervisiona esse tipo de situação para que os direitos do futuro jovem sejam assegurados. “Através de políticas públicas, o Estado tem o dever de preparar tal jovem, com cursos profissionalizantes, para que consigam entrar no mercado de trabalho”, sinaliza Thiago Rocha.
Adotar é amor
Algumas campanhas são realizadas para incentivar a adoção tardia, a exemplo da iniciativa do Tribunal de Justiça de Alagoas, que lançou o site Adotar é amor. No portal, é possível conferir depoimentos de algumas crianças e ter informações sobre a adoção e apadrinhamento.