Entre 2005 e 2020, 640.765 crianças com menos de um ano de idade morreram no Brasil, de acordo com dados coletados pela Agência Tatu da plataforma DataSUS, do Ministério da Saúde. Apesar do número permanecer alto, a taxa de mortalidade infantil tem caído ao longo dos anos.
Os dados de mortalidade são os mais recentes disponíveis na plataforma e mostram que mais da metade dos casos ocorrem por complicações relacionadas à doenças surgidas no período perinatal, que é o momento entre o fim da gestação e o início da vida do bebê.
A mortalidade infantil está diretamente relacionada com a assistência adequada na atenção básica, ou seja, a efetividade e qualidade do pré-natal, explica Fábio Guilherme, médico residente em Pediatria no Hospital Universitário da Ufal, mas que também trabalha no Hospital Geral do Estado, Santa Casa de Misericórdia de Maceió e SAMU.
Principais causas de mortalidade infantil no Brasil
A causa mais comum de morte de crianças no país são as doenças geradas no período perinatal, porém malformações congênitas, deformidades, anomalias cromossômicas e doenças do aparelho respiratório também estão entre os maiores causadores de mortalidade infantil.
“A maioria desses óbitos são decorrentes de doenças que ocorrem por complicações inerentes ao parto, como prematuridade, infecções congênitas e várias outras. No geral, vemos que a maioria das afecções causadoras de óbitos infantis podem ser reduzidas através da prevenção e uma melhor qualidade da atenção básica”, explica o médico residente.
Algumas das afecções que podem levar ao óbito durante o período perinatal:
- Pneumonia congênita
- Traumatismo ocorrido durante o nascimento
- Hipóxia intrauterina e asfixia ao nascer
- Septicemia bacteriana do recém-nascido
- Feto e recém-nascido afetados por fatores maternos
Mortalidade infantil por região
Mesmo registrando milhares de casos em todas as regiões, a distribuição de acontecimentos não é igual em todo o país. A região Norte possui as maiores taxas de mortalidade infantil. Apesar de ter 83.614 óbitos infantis ocorridos entre 2005 e 2020, a taxa de mortalidade é de 447 para cada 100 mil habitantes em uma região que possui mais de 18 milhões de habitantes. A média de morte diária no Norte nesse período era de 15 óbitos por dia.
“A disparidade entre regiões do Brasil se explica por condições sociodemográficas, associadas à cobertura da atenção básica principalmente, que em algumas regiões é maior que em outras. Sabemos também que o acesso à saúde é facilitado em grandes centros e, sendo o Sudeste do Brasil o local com maior concentração de renda, isso é um fator importante para o planejamento e execução de políticas de saúde pública”, diz Fábio Guilherme.
No Nordeste, com uma população estimada de 57 milhões de habitantes e 212 mil mortes entre 2005 e 2020, a taxa de óbitos infantis na região ficou em torno de 370 a cada 100 mil pessoas. Assim, a região é a segunda colocada. Em média 39 crianças entre 0 e 1 ano de vida faleceram por dia durante a série histórica analisada. No Nordeste, as principais causas de morte também estão relacionadas às doenças geradas no período perinatal.
O Centro-Oeste é o terceiro com uma taxa de 300 óbitos infantis para cada 100 mil habitantes. De acordo com a projeção, a região tem 16 milhões de habitantes e a média de mortes diárias, dentro da série histórica, era de nove óbitos.
O Sudeste possui uma população aproximada de 89 milhões de habitantes e é a região mais populosa do país. A taxa de óbitos infantis na região é de 253 para cada 100 mil habitantes. O Sudeste conta, ainda, com uma média de 41 óbitos infantis por dia, sendo esse o maior índice diário entre as regiões.
E por último, o Sul, que tem 30 milhões de habitantes e uma taxa de 228 óbitos infantis para cada 100 mil habitantes. A média de mortes é de 12 bebês por dia.
Redução da mortalidade infantil
A redução na quantidade de óbitos é visível ao analisar os dados. Em 2005, momento inicial da série histórica analisada, houve 51.544 mortes infantis no Brasil. Em 2010 a quantidade já era menor, com 39.870 óbitos. Em 2020 esse número caiu para 31.439 em todo o país, isto é, uma redução de 39% desde 2005.
“A mortalidade infantil reduziu, quando comparada a década de 1990/1980, e estudos já demonstram uma redução importante entre 2000-2015. Demonstra-se que estão diretamente relacionadas ao aumento no investimento na Atenção Primária em Saúde (APS) e na qualidade desse tipo de serviço. Apesar de ainda estar distante do que propõe as metas da Organização das Nações Unidas (ONU)[…]Em termos gerais, vemos que a taxa de mortalidade infantil reflete diretamente o quão efetiva está sendo a APS naquele estado ou região”, finaliza o médico residente.