Não é verdade que a Secretaria Municipal de Fortaleza promova formações de professores com apostila com incentivo à masturbação de crianças para acalmá-las. A afirmação da youtuber Regina Villela, feita em 2019 e que voltou a ser compartilhada, não contextualizou citação em um slide. O conteúdo apenas cita que prática existia nos séculos XV e XVI, mas não a recomenda. Além disso, a palestra não foi destinada a funcionários de creches.
O que estão dizendo?
A youtuber Regina Villela mostra em vídeo uma apostila que, segundo ela, seria utilizada para o treinamento de professores e funcionários de creches da rede pública de Fortaleza. “Isso seria ótimo se o tipo material pedagógico não afirmasse que é muito natural abraços, carícias e masturbação infantil para acalmar as crianças”, afirma ao acrescentar que a medida é típica de “um governo socialista”.
Apesar de responsabilizar o município pela suposta atitude, o texto que acompanha o vídeo apresenta um desencontro de informações ao atribuir o caso ao governo do estado.
É falso que a apostila mostrada no vídeo tenha sido adotada pela Prefeitura de Fortaleza para formar os professores, assim como não é verdade que o texto incentive a masturbação de crianças. O vídeo circulou em 2019 e voltou a ser compartilhado nas redes sociais em setembro de 2022. O conteúdo já foi checado por vários veículos, como g1, Estadão, Agência Lupa e Aos Fatos.
As páginas mostradas no vídeo foram, na verdade, de uma apresentação interna feita pela educadora Elisabete Cabral a formadores da Prefeitura e não a funcionários de creches. Além disso, a citação usada de forma descontextualizada pela youtuber, estava no trecho do conteúdo em que explicava historicamente as práticas comuns nos séculos XV e XVI, ou seja, não se trata de uma realidade atual e a educadora não defendeu tais práticas. A citação estava com aspas e referência do autor.
Em entrevista ao portal g1, a educadora disse que a youtuber agiu de má-fé. “Quando isso foi citado, foi dentro de um contexto histórico, quando a gente estava falando sobre a questão da criança através dos séculos. Hoje a infância é protegida. Isso mudou, antes não era assim. Hoje nós temos uma legislação”, explicou Elisabete.
A Secretaria Municipal de Educação (SME) de Fortaleza informou que à época adotou todas as medidas judiciais cabíveis, inclusive com pedido de instauração de Inquérito Policial “para apurar a autoria de crime com informações mentirosas vinculando o nome da Secretaria”. O inquérito policial tramita em sigilo no 4º Distrito Policial.
“Não há produção e distribuição de qualquer material pedagógico sobre sexualidade infantil para as unidades de educação infantil do Município. O tema não faz parte das diretrizes curriculares da educação infantil de Fortaleza”, se posicionou a secretaria a esta checagem.
O Sindicato União dos Trabalhadores em Educação de Fortaleza também se posicionou e emitiu uma nota de repúdio contra a atitude de Regina Villela. “A jornalista apresenta recortes, montagem produzindo uma leitura equivocada dos fatos”, menciona a nota.
Nordeste Sem Fake
O conteúdo falso foi encontrado pela robô Dandara, que monitora diariamente diversas redes sociais em busca de publicações com conteúdos potencialmente relacionados à desinformação. O trabalho tem a participação dos checadores do projeto Nordeste Sem Fake, da Agência Tatu. Mais checagens de fatos estão disponíveis no site.